Grande Arquiteto, Pequeno Arquiteto

Peter Morville27 de julho de 2000
Tradução: Juliana Dorneles, 11 de setembro de 2003
Versão: Português do Brasil

Primeiro veio a sopa primordial. Centenas de web sites isolados e relativamente simples aparecem em cena, e cada um deles foi rapidamente reivindicando um organismo multi-funcional chamado webmaster.

Uma relação de simbiose rapidamente tornou-se aparente. O webmaster alimentava o web site. O web site tornava-se maior e mais importante. Assim surgia o webmaster. A vida era boa.

Então, coisas ruins começaram a acontecer. O tamanho, complexidade e importância dos web sites começam a crescer de maneira descontrolada. Mutações começam a nascer.

Estranhos novos organismos com nomes como designer de interação, engenheiro de usabilidade, analista de experiência do usuário, e arquiteto de informação começam a competir com o webmaster, e entre si, por responsabilidades e recompensas. O equilíbrio foi interrompido e nós entramos na atual era da rápida evolução e da especialização.

A Sobrevivência do mais forte



Como todas estas formas de vida lutam para definirem seus papeis e relações num ambiente competitivo, o diálogo começa a ficar um pouco caloroso. Considerando uma recente mensagem na lista de discussão CHI – Web, na qual Jared Spool, um membro principal do gênero engenhairia de usabilidade, atacou o gênero experiência do usuário:

"Eu pessoalmente penso que esse atual movimento de 'experiência do usuário' é uma bobagem tremenda. Acho que isso tudo é uma campanha de MID (medo, incerteza e dúvida) para fazer com que executivos invistam seus dólares. "

Esses embates podem ser bastante irritantes ou bem humorados, dependendo do ponto de vista (se você for um dos que está sendo atacado, provavelmente não achará tão engraçado). Antes de levarmos a sério essas agressões, precisamos levar em consideração dois fatos:

  1. A evolução (até agora) não leva a uma única espécie no planeta. Haverão áreas específicas (e necessárias) para vários profissionais de web design.
  2. O suprimento de comida (dinheiro disponível para o apoio ao crescente aumento de web sites em número, complexidade e importância) continuará crescendo rapidamente no futuro.

Então, todos nós precisamos estar atentos.

O Papel do Arquiteto de Informação

Isso me traz para o tópico central e mais importante deste artigo. Eu presenciei recentemente tentativas de abreviar o papel do Arquiteto de Informação, com o sinistro objetivo óbvio de acabar com o nosso precioso suprimento alimentar. Isso não é engraçado.

Isso tudo começou em março, quando Jesse James Garrett criou um excelente modelo visual para ilustrar os elementos da experiência do usuário.

Assim como todas as boas ferramentas, pessoas pretenciosas rapidamente encontraram maneiras de subverter o visual proposto por Jesse para seus próprios propósitos malignos. A despeito do fato de que, Jesse explicitamente estabeleu o visual segundo suas próprias concepções,

"Este modelo não descreve o processo de desenvolvimento, nem define os papéis dentro da equipe de desenvolvimento da experiência do usuário."

Eu tenho visto pessoas tentanto encaixar todas as tarefas do arquiteto de informação na estrutura proposta por Jesse para a arquitetura de informação. Essas pessoas falam coisas como:

"Nós ainda não precisamos envolver o arquiteto de informação. Seus papeis não serão definidos antes de nós determinarmos as necessidades do usuário, os objetivos do site, as especificações de funcionalidade e as demais exigências. Basta olhar o diagrama de Jesse.

Ou

"O arquiteto de informação não deve se envolver com o design do sistema de navegação. Isso é trabalho para o designer de interação."

Nós precisamos desafiar esta visão de que o arquiteto vive processos isolados ou enfrentarmos um futuro próximo tão ruim quanto a perspectiva de estarmos presos em pequenas pastinhas azuis.

Em defesa da diversidade e da diferenciação

Existe um núcleo para a prática da arquitetura de informação que envolve a estruturação e organização dos sistemas de informação que proporciona acesso intuitivo ao conteúdo e à aplicativos.

Contudo, interpretações de quais seriam as atribuições do arquiteto de informação variam dependendo das organizações, dos projetos e das pessoas envolvidas.

De um lado temos o pequeno arquiteto de informação, que deve se focar unicamente em tarefas centrais como as definições de arquivos e o controle de vocabulário.

De outro lado, temos o grande arquiteto de informação que deve desempenhar o papel do "maestro de orquestra ou diretor de filme, concebendo o conceito e os movimentos que a equipe deve seguir", como descreve Gayle Curtis, Diretor de Criatividade.

Enquanto esta diversidade e diferenciação deixam algumas pessoas confusas, eu creio que sejam coisas boas. No rico e dinâmico ambiente do web design, eu seria bobo em definir tarefas e responsabilidades fixas para os profissionais.

Alguns projetos necessitam de um Grande Arquiteto de Informação. Outros precisam de um pequeno arquiteto de informação. Os melhores trabalhos nascem da colaboração entre arquitetos de informação, designers de interação e outros profissionais de todos os tipos.

Trabalhando em equipe no desenvolvimento de sites úteis e usáveis, garantiremos que nosso suprimento alimentar continuará crescendo. A evolução não é um jogo de soma zero.

Notas de fim

Você tem uma opinião formada sobre as tarefas de um arquiteto de informação? Mande-as para Peter Morville.

Esta página foi modificada pela última vez dezembro 2, 2003 01:28 PM.